quinta-feira, 19 de março de 2009

Luz no fim do túnel!

Dia 17 de março completei 4 meses de missão.
São 103 dias dentro da base, subtraindo 4 dias de rest e 13 de leave já gozados. 85 reuniões do pôr-do-sol, tudo isso sem contar os 30 dias em Aquidauana, na fase de preparação.
Hoje me despedi de 10 militares do rodízio defasado. Esses companheiros trabalharam com o contingente anterior e sua função é impedir que haja a solução de continuidade e garantir o fluxo de informações entre dois contingentes. Fizeram um excelente trabalho e passaram pelo difícil momento de se despedir de um grupo no qual já estavam inseridos.
Da mesma forma, hoje a Bra Eng Coy recebe seus substitutos, os quais se prepararam conosco no Mato Grosso do Sul e continuaram no Brasil aguardando a hora de embarcar.
Para quem fica, isso tem um importante significado: Falta pouco pra acabar!
Para mim, que cheguei no primeiro escalão e vou embora no último, cerca de 78 dias. Considerando que ainda tenho 4 dias de rest e 13 de leave, são aproximados 2 meses de trabalho.
Finalmente a luz no fim do túnel!

Grande Muralha: A China contra o Mundo.

Sou um curioso a respeito das coisas da China. Estudei Mandarim no templo budista de Olinda (PE) durante quase todo o ano de 2005 e li alguns livros, artigos e sites a respeito do país mais populoso do planeta, com seus mais de 1,3 bilhão de habitantes que, em menos de 25 anos, tornou-se a quarta maior economia do mundo. O país encanta não somente pelos seu números grandiosos, mas também por sua história, arte e persistência.


Retornei ao livro de Julia Lovell na mesma semana do Medal Parade do contingente de polícia da China que participa da MINUSTAH e pude ver, em pequenas coisas, alguns aspectos tratados pela autora e outros de conhecimento adquirido anteriormente.
Cheguei à metade do livro e tem sido o que eu desejava: me aprofundar na história chinesa.
É interessante o fato dela abordar toda a história falando das muralhas construídas, principalmente porque chega-se à conclusão que isso é completamente dispensável, embora a autora afirme que "é um emblema perfeitamente útil para a leitura da China."
Ao que parece, fomos vítimas do marketing chinês, que se aproveitou de nosso estilo exagerado ocidental. Sendo assim vou aproveitar este espaço para divulgar algumas informações a respeito da Grande Muralha que a maioria não sabe.

1. Nenhuma das palavras em chinês utilizadas para definir aquele tipo de construção significava especificamente Grande Muralha. A que mais se aproxima, usada apenas esporadicamente antes do século XX, é Changcheng que significa longa muralha. Foram os ingleses, mais que os chineses, que a reconheceram como grande e referindo-se particularmente ao impressionante exemplo de engenharia de construção numa fronteira hoje irrelevante.

2. A muralha que se conhece hoje tem cerca de 500 anos ou seja, não é tão antiga assim. Nem tampouco é única, mas um conjunto de muralhas menores.

3. As muralhas nunca foram eficientes como instrumento de defesa nem tampouco demarcavam fronteiras sólidas e robustas entre nações e culturas. A história da China revela um reino onde alternaram-se no poder, além dos próprios chineses, diversos líderes de bárbaros que, ao abandonarem o estilo nômade das estepes para tentar adaptar-se ao sedentarismo necessário da agricultura, viam-se também enfraquecidos e expostos a novas invasões.

4. A muralha não pode ser vista da Lua. Essa idéia propagada pelo milionário caricaturista, escritor e sinófilo Robert Ripley em 1932, décadas antes da era dos foguetes, foi confirmada por Neil Armstrong quando do seu pouso no nosso satélite natural. Tudo veio a ser desmentido mais tarde pelo Geographical Magazine que, após estudos concluiu que o astronauta viu na verdade uma formação de nuvens.

A necessidade de dar ao país um símbolo da grandeza passada a fim de manter o sentido de auto estima nacional durante os anos magros do século XX cheio de revoluções fracassadas, guerras civis, invasões estrangeiras, fome e pobreza esmagadora e generalizada encontrou na muralha o símbolo perfeito, unindo a necessidade que os ocidentais tem de listar obras maravilhosas ao desconhecimento em relação à verdadeira história e ao respeitado e misterioso misticismo próprio dos orientais.

Até aqui Julia Lovell demonstrou extremo conhecimento e capacidade de fazer a ligação entre as muralhas do passado e a China de hoje que, embora use sua Grande Muralha para atrair o turista e levantar a moral do seu povo, precisa hoje destruí-la a fim de integrar-se a um mundo globalizado e dinâmico, que não aceita limites físicos para sua expansão e dita a sobrevivência das nações.

sábado, 14 de março de 2009

Ney Matogrosso e o Youtube: Coisas boas da vida.

Ouvi o Ney Matogrosso pela primeira vez quando ainda era criança, num LP do Secos & Molhados, que espero encontrar nas coisas da minha mãe (eu pretendo sequestrá-lo), grupo do qual o Ney fazia parte.
E como não se impressionar ao ouvir a Rosa de Hiroshima! como esquecer??
Cresci e, embora tivesse bastante curiosidade pelo trabalho dele, não me interessei mais, passei a ouvir rock e músicas mais dançantes, aquelas mais comerciais que tocam na maioria das rádios.
Contudo, ainda existe salvação (para mim). Ouvindo a Nova Brasil FM, que só toca músicas nacionas, peguei pela metade uma canção dele cujo refrão perguntava: onde está você meu amor, eu preciso de um pouco de calor... uma música linda! com letra, melodia e sentimento. Nesse mesmo dia fui buscar na internet e ouvi várias vezes, recomendei a diversas pessoas e, enfim, fui buscar mais coisas desse cara que é realmente excepcional.
Nessa busca fui parar no youtube, um site que eu nunca tinha dado muito valor, nunca o havia explorado em busca de coisas boas. Além disso, vivo sem tempo, ou pelo menos penso que vivo... e assim acabo não aproveitando essas coisas boas da vida. Pois foi lá que encontrei diversas e grandiosas apresentações do Homem com H.
No início quando passei a buscar e divulgar a música Um Pouco de Calor, pensei comigo que talvez eu estivesse ficando velho e por isso estava curtindo Ney Matogrosso, mas ao ver alguns vídeos das apresentações desse artista descobri que o problema não era a juventude, era a minha ignorância... e à medida que eu ia assistindo ia também percebendo como meu gosto musical ia se tornando mais apurado e um monte de idiotices que ouvi começaram a se apagar da minha mente..envergonhadas talvez.
No Youtube descobri, entre outras coisas, que a música Rosa de Hiroshima é um poema de Vinícius de Moraes, revi o show dele na abertura do Rock in Rio de 1985, em trajes mínimos de indígena, gritando em altos brados "Deus salve a América do Sul" em pleno governo militar, predizendo a redemocratização que estava por vir, assisti a mesma vitalidade, energia e liberdade num vídeo de 89 da Rede Manchete e nas imagens do show Inclassificáveis que, após assistir algumas partes na internet, pretendo conferir assim que retornar e ainda fiquei satisteito ao vê-lo, inteligentemente e firmemente, defender seu ponto de vista em relação às drogas, sem demagogia ou média com ninguém.
Definitivamente, Ney Matogrosso e o Youtube são exemplos de coisas boas da vida. Ambos pela coragem, ousadia e liberdade. Aquele também pelo talento, este também pelo espírito democrático!