quinta-feira, 19 de março de 2009

Grande Muralha: A China contra o Mundo.

Sou um curioso a respeito das coisas da China. Estudei Mandarim no templo budista de Olinda (PE) durante quase todo o ano de 2005 e li alguns livros, artigos e sites a respeito do país mais populoso do planeta, com seus mais de 1,3 bilhão de habitantes que, em menos de 25 anos, tornou-se a quarta maior economia do mundo. O país encanta não somente pelos seu números grandiosos, mas também por sua história, arte e persistência.


Retornei ao livro de Julia Lovell na mesma semana do Medal Parade do contingente de polícia da China que participa da MINUSTAH e pude ver, em pequenas coisas, alguns aspectos tratados pela autora e outros de conhecimento adquirido anteriormente.
Cheguei à metade do livro e tem sido o que eu desejava: me aprofundar na história chinesa.
É interessante o fato dela abordar toda a história falando das muralhas construídas, principalmente porque chega-se à conclusão que isso é completamente dispensável, embora a autora afirme que "é um emblema perfeitamente útil para a leitura da China."
Ao que parece, fomos vítimas do marketing chinês, que se aproveitou de nosso estilo exagerado ocidental. Sendo assim vou aproveitar este espaço para divulgar algumas informações a respeito da Grande Muralha que a maioria não sabe.

1. Nenhuma das palavras em chinês utilizadas para definir aquele tipo de construção significava especificamente Grande Muralha. A que mais se aproxima, usada apenas esporadicamente antes do século XX, é Changcheng que significa longa muralha. Foram os ingleses, mais que os chineses, que a reconheceram como grande e referindo-se particularmente ao impressionante exemplo de engenharia de construção numa fronteira hoje irrelevante.

2. A muralha que se conhece hoje tem cerca de 500 anos ou seja, não é tão antiga assim. Nem tampouco é única, mas um conjunto de muralhas menores.

3. As muralhas nunca foram eficientes como instrumento de defesa nem tampouco demarcavam fronteiras sólidas e robustas entre nações e culturas. A história da China revela um reino onde alternaram-se no poder, além dos próprios chineses, diversos líderes de bárbaros que, ao abandonarem o estilo nômade das estepes para tentar adaptar-se ao sedentarismo necessário da agricultura, viam-se também enfraquecidos e expostos a novas invasões.

4. A muralha não pode ser vista da Lua. Essa idéia propagada pelo milionário caricaturista, escritor e sinófilo Robert Ripley em 1932, décadas antes da era dos foguetes, foi confirmada por Neil Armstrong quando do seu pouso no nosso satélite natural. Tudo veio a ser desmentido mais tarde pelo Geographical Magazine que, após estudos concluiu que o astronauta viu na verdade uma formação de nuvens.

A necessidade de dar ao país um símbolo da grandeza passada a fim de manter o sentido de auto estima nacional durante os anos magros do século XX cheio de revoluções fracassadas, guerras civis, invasões estrangeiras, fome e pobreza esmagadora e generalizada encontrou na muralha o símbolo perfeito, unindo a necessidade que os ocidentais tem de listar obras maravilhosas ao desconhecimento em relação à verdadeira história e ao respeitado e misterioso misticismo próprio dos orientais.

Até aqui Julia Lovell demonstrou extremo conhecimento e capacidade de fazer a ligação entre as muralhas do passado e a China de hoje que, embora use sua Grande Muralha para atrair o turista e levantar a moral do seu povo, precisa hoje destruí-la a fim de integrar-se a um mundo globalizado e dinâmico, que não aceita limites físicos para sua expansão e dita a sobrevivência das nações.

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