quarta-feira, 29 de julho de 2009

Rir em meio à tormenta!


Não pretendo aqui parecer algum tipo de especialista em música, crítico ou estudioso, definitivamente não sou.

Nem tampouco sou um amante das antiguidades, mas aprendi, provavelmente com a minha mãe, a reconhecer o valor das coisas.

Os discos de música Portuguesa nunca me atrairam, mas outros que a D. Cila insistia em colocar aos domingos de manhã acabaram por despertar, inicialmente, leve curiosidade e depois, com minha maturidade, o interesse que me leva a ouvir essas músicas hoje.

Édith Giovanna Gassion tornou-se Edith Piaf em virtude de sua estrutura e voz que lembram um pequeno pardal. Não me lembro de tê-la ouvido na minha infância, mas tenho a impressão que sim.

Ano passado assisti ao filme que conta a história de sua vida, Piaf - Um Hino ao Amor, achei um pouco monótono e triste mas, lendo sua biografia se entende que não poderia ser muito diferente.

Mulher livre, exceto pelo vício na morfina e no álcool que a aprisionavam. Teve muitos amantes, não deixou filhos, a não ser os frutos de sua belíssima obra.

Como compositora, teve em La vie en Rose seu grande clássico. Pregava que a vida é rosa e cantava o amor bom__ apesar de toda a desgraça que o destino reservou para essa menina que foi criada num prostíbulo até os 7 anos de idade.
"Olhos que fazem baixar os meus
Um riso que se perde em sua boca
Aí está o retrato sem retoque
Do homem a quem eu pertenço

Quando ele me toma em seus braços
Ele me fala baixinho
Vejo a vida cor-de-rosa"

Apesar do vestido preto, marca registrada de suas apresentações, e das desilusões amorosas que teve, Piaf jamais cantou a "dor de cotovelo". Mesmo em Ne Me Quitte Pas, talvez sua canção mais triste, a meu ver não tem nada de "dor de cotovelo".

Não me deixes mais
É necessário esquecer,
tudo pode ser esquecido,
O que ficou pra trás
Esquecer o tempo dos mau entendidos
O tempo perdido
Saber como
Esquecer as horas
que matavam às vezes
De dúvida e medo
A culpa, o porque
O centro da felicidade
Não me deixes mais, não me deixes mais, não me deixes mais


Edith Piaf influenciou grandes nomes, o próprio Charles Aznavour foi seu assistente e depois amante, divulgou a música francesa pelos Estados Unidos, Europa e América do Sul.

Adoro sua voz, infelizmente essas pessoas geniais têm uma vida de extremos e morrem cedo.
Extremos de amores, de noitadas, de drogas, de alegrias e tristezas.

Crescer num prostíbulo, ser acometida por queratite e ficar quase cega, acompanhar o pai num circo, cantar na rua para não ficar à mercê de cafetão e se prostituir, ver seus amores sendo levados pela tragicamente morte (outros pela vida), nada disso a impediu de rir em meio à tormenta, nem de tronar-se "cantora e compositora imortal, cujas letras retrataram, em tom de drama ou de alegre sátira, boa parte da história social e amorosa dos parisienses do século XX, levando sua voz peculiar, inconfundível, tornada universal, para todas as partes do mundo, como símbolo do renascimento francês depois da desastrosa experiência da IIª Guerra Mundial."

"Piaf enterneceu-se pelas infelizes, pelos vagabundos e bêbados, pelo desacerto dos amantes e suas paixões impossíveis, doídas e fracassadas, sem porém fazer disso uma tragédia."

"Rosto redondo, expressivo mas sem beleza, cabelos em desalinho, vestido longo escuro, pequerrucha, sob a luz do palco ela era indomável, irresistível, arrebatadora. Flutuava ao microfone, como um beija-flor frente a uma rosa. Deixou o mundo em 10 de outubro de 1963, aos 47 anos, desagastada pela morfina e pela época em que rodava pelas ruas como a cigana Esmeralda de Hugo. Uma vida da qual ela não se queixou: Non. Je me regrette rien/ Je me fous du passé, "Não me lamento de nada/ Eu me lixo para o passado". Seu corpo, sereno e descuidado, acompanhado por uma multidão de parisienses, foi sepultado no Père Lachese, cemitério de Paris que acolhe as celebridades do mundo artísticos da França."

Recomendo!!

P.S. Este post foi escrito ao som de Edith Piaf e é dedicado à pessoa que um dia julguei ser a mais inteligente que conheci.

domingo, 26 de julho de 2009

Poesia do Waly Salomão

AMANTE DA ALGAZARRA

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.

É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.

É ela!!

Todo mundo sabe, sou um lisa flor de pessoa,

Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.

Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro.

Vixe!!

Enquanto caminha a pé, pedestre – peregrino atônito até a morte.

Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.

É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto

E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.

Quem corre desabrida

Sem ceder a concha do ouvido

A ninguém que dela discorde

É esta

Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.

(De Tarifa de Embarque)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Pan Cinema Permanente

Me mudei para Brasília em setembro de 2007 e uma das primeiras coisas que percebi nas redondezas da minha quadra foi o prédio do Sindicato dos Bancários. Um centro cultural que reúne, divulga e promove diversos tipos de arte.

Às segundas tem o cinema grátis, sempre com filmes nacionais, ontem eu fui lá conferir.
Grata surpresa, ambiente agradável com pessoas de ótimo nível, envolvidas ou interessadas na cultura.

O mês de julho foi dedicado à poesia e ontem foi a vez de Pan Cinema Permanente, um filme que parece muito um documentário, mas no fim das contas é uma homenagem a Waly Salomão.

O nome do Waly não me era estranho, mas confesso que não fazia idéia de onde tinha ouvido falar. Depois do filme vim buscar na internet um pouco mais sobre ele e descobri que além de poeta, letrista e produtor ele também havia trabalhado com o Gilberto Gil no Ministério da Cultura.

Dono de uma trajetória interessante, formou-se em Direito, se mandou para o Rio sem grana e acabou indo parar no Carandiru. Inquieto e falante, inteligente e sagaz, se diz borderline em uma das passagens do filme...aí começou a minha identificação com ele.

Não! eu não sou borderline, mas já fui chamado disso que não vou explicar aqui o que é.
(Interessante que no jornalzinho do sindicato tem uma matéria sobre isso e falando do Nietzsche)

Em diversas partes do filme ele faz colocações pouco convencionais que os sentimentalóides, defensores da moral e dos bons costumes ou do humanismo emocional detestariam. Essas colocações viraram poesia ou coisa cult porque foi ele que falou! ou será que as pessoas que o rodeavam é que estavam capacitadas para ouvir?

Tem isso, aprendi que muitas vezes não entendemos bem um livro por não estarmos devidamente preparados para ele.

Após o filme rolou um debate, uma menina (muito bonitinha por sinal) comentou o filme e buscou a participação da platéia, alguns presentes conheceram o Waly pessoalmente e deram seu testemunho...interessante, um pouco chato...

Enfim, descobri Waly Salomão e o cinema grátis do Sindicato dos Bancários vou voltar lá quando puder.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Abandonado...

Sim, este blog está ou estava abandonado...só ele que não sabe disso e fica me atormentando me lembrando o tempo todo que existe, que esta aqui e que eu preciso visitá-lo...
------------------------------------------------------------------------------------------------
Minha missão no Haiti acabou, tirei muitos ensinamentos e são só meus, nem adianta compartilhar, ninguém vai entender a profundidade ou a importância de cada fato para mim.
Honestamente já estou cansado de responder a perguntas do tipo: E como foi lá? (???) por favor se você quer verdadeiramente saber sobre alguma coisa, pergunte objetivamente!
Esse é um entendimento que todos têm que ter, a percepção não é coletiva!!
Mais uma vez temos a tendência de pensar que todos devem entender da mesma forma, da nossa forma.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Críticas...
Tenho dito repetidamente que é preciso ter cautela e respeito antes de criticar, não que eu queira que todos pensem como eu, mas avaliar a fonte do comentário me parece fiundamental, uma questão de bom senso, básica mesmo!
Que conhecimento essa pessoa tem, o que a qualifica para a crítica?
Claro que existem vários tipos de críticas e em diversos níveis.
Conversando com uma colega fiquei sabendo de uma escritora irlandesa de nome Edna O'Brien que criticou Chico Buarque, duramente chegando a chamá-lo de farsa!
A meu ver, por tabela acabou nos chamando a todos de idiotas, otários ou coisa parecida. Não que ele seja uma pessoa intocável, não existe esse "monstro sagrado" (eu odeio essa expressão), contudo quem é essa senhora para dizer que um ícone nacional, reconhecido internacionalmente em todos os campos da arte em que atuou, é uma farsa?
Veja não acho que o fato dela participar da FLIP a credencia para essa crítica. Quem é ela para avaliar? Se é uma percepção que ela teve a partir de algo que ouviu ou leu tudo bem...mas tornar essa opinião publica!! Acho no mínimo irresponsável e deselegante.
Da mesma forma que uma colega vira pra mim e fala que a música de Edith Piaff só fala de dor de cotovelo. Por favor, uma pesssoa que não sabe o que é merci, não entende um ça va, como pode dizer uma coisa dessas?? Que fale da voz, do ritmo, da harmonia, mas do enredo??
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Pernambucanamente
Ontem numa discussão numa mesa de bar uma pernambucana questionou o porquê de uma paraense torcer pelo Flamengo.
Os pernambucanos, de maneira geral pensam assim: Se você tem time no seu estado você obrigatoriamente tem que escolher um de lá....ora vai se fuder!!!
Cada um torce pelo time que quiser, seja do seu estado do seu país ou mesmo do seu planeta!
Já estou cansado desse bairrismo dos pernambucanos!
Eu tocava maracatu com um grupo na Rua da Moeda e por diversas vezes me vi defendendo a cultura pernambucana para os pernambucanos que só escutam frevo e maracatu no carnaval.
Era engraçado ver a cara deles ao sugerir que a gente ouvisse um dos cds de frevo que eles tivessem no carro.
Ninguém tem, simplesmente porque frevo é muito chato!
Pois eu tenho e terei sempre muito cuidado para criticar o outro, simplesmente porque aprendi a respeitar das diferenças.
E nesse planeta pode tudo, é a festa do amor...hehehehehehehehehehe
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Apesar de tudo eu sugeri ao grupo que fôssemos tomar um chopp no Hooter's, na esperança de que tivessem a mesma impressão que eu. Claro que não foi assim, as meninas ficaram inseguras ao ver as garçonetes de shortinhos...
Uma colega advogada chegou a questionar se isso era assédio moral...ora, então o garçom do restaurante mexicano que trabalha com sombreiro ou o do restaurante japonês que trabalha com kimono também deveriam se sentir ofendidos?
Mas é isso...em nome da minha paz eu discuto cada vez menos e este é o paradigma da tolerância, quando você já não discute mais, não por respeitar a opinião alheia, mas simplesmente por achar que não vale a pena.